BPA

Bisfenol A, sexualidade e câncer

O Bisfenol A, também conhecido com a sigla BPA é um composto utilizado na produção de policarbonato, uma resina utilizada na produção da maioria dos plásticos como materiais dentários, brinquedos, equipamentos esportivos, inclusive os que tem contato com alimentos, como revestimento de latas, mamadeiras, potes de cozinha, etc.

Em 1960 seu uso foi autorizado pelo FDA  (Food and Drug Administration), porém, a partir de 2008 começaram a desenvolver mais pesquisas em relação a segurança do consumo e exposição ao Bisfenol, e a polêmica começou. Só a partir de 2010 o Programa Nacional de Toxicologia do FDA começa a alertar que estudos mais recentes apresentam motivos para preocupação quanto ao seu consumo, relacionados a potenciais efeitos no cérebro, comportamento e alterações hormonais. Porém, sem determinar um nível seguro de ingestão, seu uso não foi proibido devido a “falta de pesquisas” comprovando os efeitos deletérios e o nível de quantidade ingerida ou exposta.

O Bisfenol-A é um xenobiótico “substância química de origem exógena: plantas, produtos sintéticos, poluentes ambientais, etc, que interferem na produção, liberação, transporte, metabolismo, ligação ou eliminação dos hormônios naturais, responsáveis pela manutenção da homeostasia e regulação dos processos de desenvolvimento” (Goloubkova, 2000).

Estudos sugerem que o organismo humano ao entrar em contato com o Bisfenol A, pode afetar o sistema endócrino desregulando a ação de hormônios, trazendo danos a saúde como infertilidade, modificações dos órgãos sexuais internos, endometriose e câncer. Também já sugerem alteração dos hormônios da tireoide, alteração da liberação de insulina pelo pâncreas, aumento das células de gordura, mesmo com doses extremamente baixas, inferiores a suposta “dose segura de ingestão diária”

Principais Efeitos sobre a saúde:

Disruptor endócrino:

O Bisfenol consegue mimetizar os estrogênios (in vivo e in vitro), anti-androgênios e moléculas do sistema endócrino como a tireóide, hipotálamo e hipósfise.

Por mimetizar o estrógeno, o BPA afeta diretamente na fertilidade masculina pois pode levar a baixa contagem no espermograma, morfologia anormal do esperamotozóide. Na mulher pode gerar anormalidades cromossômicas, perda fetal, ciclos menstruais irregulares, endometriose, e redução da fertilidade.

Em adolescentes e adultos, a exposição ao Bisfenol demonstrou também uma diminuição da produção natural de testosterona, causando outras disfunções hormonais.

Problemas neurológicos:

Estudos mais recentes demonstram o impacto do BPA no cérebro e no comportamento humano, apesar de não conter muitos estudos, a maioria deles relacionou com comportamento agressivo, déficit de atenção, hiperatividade, depressão e ansiedade, principalmente demonstrados em crianças ainda no período da gestação.

Relatam também que a exposição pré-natal ao BPA pode ter impacto negativo no comportamento ligado ao dimorfismo sexual no adulto.

Câncer:

Estudos também já conseguem demonstrar que a exposição ao Bisfenol pode interferir sobre a estrutura do DNA e expressão gênica e daí o desenvolvimento de câncer de próstata e de mama.

Problemas Cardíacos, obesidade e Diabetes:

Além dos fatores de risco tradicionais como histórico familiar, sedentarismo, e a má alimentação, o Bisfenol tem sido alvo de estudos pois é um contribuinte potencial para o desenvolvimento destas doenças.

Enquanto o mecanismo de ação não está completamente entendido, a ligação de BPA para os receptores relacionados com o estrógeno tem sido demostrado para induzir resistência à insulina, a adipogênese (formação de novas células de gordura), a disfunção das células beta pancreáticas, inflamação, e o stress oxidativo. Porém há uma necessidade maior e urgente em investigar a exposição ao BPA em relação a saúde cardiometabólica.

Existem mais problemas de saúde que já estão sendo relacionados a exposição do BPA, mas os citados acima são os que já possuem mais referencial sobre o assunto.

Como ocorre a contaminação:

Normalmente se dá pela ingestão de pequenas quantidades ingeridas em alimentos armazenado em plásticos, pois o BPA se desprende dos recipientes. Independente de armazenamento quente ou frio (microondas ou geladeira).

Numa pesquisa publicada em 2010 pela Analytical and Bioanalytical Chemistry também relata a contaminação através do contato da pele com papéis termo sensíveis, encontrado em extratos bancários, por exemplo.

E no Brasil???

Em 2010 a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou uma reunião com especialistas de diversos países para discutir o assunto, e a conclusão foi de que para diversos pontos estudados a exposição ao BPA é inferior aos níveis que causariam preocupação, não interferindo no risco da saúde humana.

Apesar disto diversos países tiveram o BPA banido da produção dos materiais plásticos, como por exemplo a China em 2011.

No Brasil, em 2011-2012, A ANVISA (Agência Nacional Vigilância Sanitária) , proibiu a importação e fabricação de mamadeiras que contenham Bisfenol-A. Mas para as demais aplicações, o BPA ainda é permitido, embora a legislação estabeleça limite máximo de migração da substância para os alimentos.

Mas queridos… com tantos artigos citando os problemas nocivos a nossa saúde com a exposição ao Bisfenol-A, o ideal é evitar realmente seu consumo. Não vamos esperar mais alguns anos até que se mude a legislação aqui no país. Vamos tomar os devidos cuidados para que possamos consumir cada vez menos Bisfenol-A.

Dicas de como evitar a exposição ao Bisfenol ou BPA:

  • Prefira sempre utilizar potes e garrafas de vidro, ou aço inoxidável (seguindo s sugestões de uso do fabricante), porcelana.
  • Lembre-se que as garrafas de água de 20 litros também são plásticas, então o ideal é preferir o filtro de água mesmo.
  • Procure shakeiras, squeezes ou até mesmo as mamadeiras que são BPA-free (livres de BPA).
  • Jogue fora os potes plásticos que já estão lascados, ou riscados.
  • Não esquente alimentos acondicionados em plásticos no microondas, ou leve ao freezer, pois o BPA será liberado em maior quantidade.
  • Evite o consumo de alimentos e bebidas enlatadas, pois o BPA também é utilizado no revestimento interno das latas.
  • Evite imprimir extratos bancários ou comprovantes de cartão de créditos, opte pelas versões digitais, ou SMS, seu corpo agradece e a natureza também ;). Ainda sobre estes papéis termo-sensíveis, vale a pena informar que a melhor forma de seu descarte é no lixo comum e não no reciclável.

Esse conteúdo tem a pretensão de ser atemporal, portanto, caso você que está lendo encontre falhas com referência, por gentileza entre contato pelos comentários.

Referencias Bibliográficas:

Jason Aungst, Ph. D. Bisphenol A and Regulatory Implications. U.S. Food and Drug Administration. 2012.

Agência Nacional Vigilância Sanitária. Encontrado em: http://s.anvisa.gov.br/wps/s/r/Fto

Goloubkova, Tatiana and Spritzer, Poli Mara Xenoestrogênios: o exemplo do bisfenol-A. Arq Bras Endocrinol Metab, Ago 2000, vol.44, no.4, p.323-330. ISSN 0004-2730

Eichenlaub-R.U. Pacchierotti, F. “Bisphenol A Effects on Mammalian Oogenesis and Epigenetic Integrity of Oocytes: A Case Study Exploring Risks of Endocrine Disrupting Chemicals.” BioMed Research International 2015 (2015): 698795. PMC. Web. 7 Sept. 2015.

Biedermann S1, Tschudin P, Grob K. Transfer of bisphenol A from thermal printer paper to the skin. Anal Bioanal Chem. 2010: 398(1):571-6.

http://www.endocrino.org.br/

Mustieles V, Pérez-Lobato R., Olea N., Fernández M.F.. Bisphenol A: Human exposure and neurobehavior. Neurotoxicology. 2015: 49:174-84.

Rancière F., Lyons J., Loh V., Botton J., Galloway T., Wang T., Shaw J.E., Magliano D.J. Bisphenol A and the risk of cardiometabolic disorders: a systematic review with meta-analysis of the epidemiological evidence. Environ Health. 2015: 31;14:46.

Bisphenol A: a threat to human health?. (n.d.) >The Free Library. (2014). Retrieved Sep 07 2015 fromhttp://www.thefreelibrary.com/Bisphenol+A%3a+a+threat+to+human+health%3f-a0396768632

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