O seu pior inimigo, você!

Depois de algum tempo trabalhando com nutrição aprendi muitas coisas com meus pacientes e chega um ponto que praticamente consigo prever o que ele irá falar antes mesmo dele pensar naquilo. Não, não tenho nenhum dom especial e nem poderes sobre-humanos, mas em algum ponto começamos a identificar padrões com mais facilidade dentro das nossas atividades cotidianas e profissionais.

Bem, esse assunto é delicado… bem delicado e tem haver com você, comigo e com todas as pessoas. Vou falar sobre um inimigo muito poderoso que enfrentamos todos os dias, do primeiro ao último dia de vida, um inimigo que nunca conseguiremos derrotar, nós mesmos.

Vamos imaginar que nós somos divididos em 2 partes, corpo e mente. A mente (simplificadamente) seja dividida em outras 3 partes conhecidas por Superego, Ego e ID. Já o corpo cuja correspondência é a parte mecânica, é a nossa interface com o mundo.
Bem, o que nos atrapalha nessa cena é o Superego que mora dentro de cada um de nós, ele é o motor que nos faz sentir vergonha, culpa e cria a necessidade constante de buscarmos a perfeição como a vemos e é nesse ponto que dificulta o meu trabalho com o paciente.

Vamos partir da premissa que “tu és o resultado de ti mesmo“(Pablo Neruda), ou seja, nesse momento você é o produto de tudo aquilo que você fez para chegar aqui. Então, maus hábitos alimentares, falta de atividade física, pouca disciplina irá formar um individuo tão forte e resistente quanto uma casinha de papelão. A analogia serve para demonstrar que casas feitas de tijolos (comida saudável) são mais resistentes e confiáveis as casas feitas de papelão (fast-food, salgadinhos e derivados cheios de corante) que não oferecem proteção alguma.
Essas falhas só são de fato “falhas” quando alguém percebe elas, esse alguém pode ser você, seus pais, seus filhos ou vizinhos. Enfim, qualquer pessoa a quem você possa apresentar a sua imagem.

O primeiro passo

É muito difícil pro individuo falar sobre os seus defeitos, vergonhas, manias ou deficiências. Alias reconhecer falhas e buscar por ajuda é um dom para poucos devido ao seu grau de dificuldade. Recomendo que você quando estiver na condição de paciente (para qualquer profissional da área de saúde) esteja preparado para se abrir e contar o que de fato incomoda você, sem medo de ser reprovado, sem vergonha e se focar na mais pura verdade por pior que ela possa lhe parecer. É do arquiteto Ludwig Mies van der Rohe a celebre frase “God is in the details” (Deus está nos detalhes), avalie suas fraquezas e defeitos nos mínimos detalhes isso trará autoconhecimento e melhores resultados.

O inimigo agindo

Quando um professor faz uma pergunta em meio a sala de aula com muitos alunos, porque sempre demora pro primeiro se manifestar? Seria medo de errar? Medo de afetar sua imagem perante os outros? E caso ele erre vai se sentir inferior aos outros? Um dos muitos nomes do inimigo é a vergonha.

Durante a anamnese faço diversas perguntas que cedo ou tarde toca na ferida do paciente e como no exemplo acima o superego irá tentar defende-lo fazendo ele distorcer a verdade de maneira que o deixe o menos desconfortável possível. Perguntas simples como: – O que você come no seu café da manhã? Viram uma prova de vestibular onde ele quer acertar ao invés de contar o que ele realmente come.

 Você deve estar pensando: – Então ele é mentiroso. Não! Não é mentira quando acreditamos naquilo como uma verdade.
Vamos pensar no superego como o pai do seu namorado (a), você tem que ganhar a confiança dele para ter a aprovação da família. Só que essas ações acontecem em tempo real e não são planejadas, elas são fruto do sub-consciente dos indivíduos.
Existe um prazo minimo para que o paciente se sinta a vontade para depositar a confiança necessária no profissional e retirar essas trancas na porta da frente do seu verdadeiro eu, permitindo assim que ele possa entrar, realizar os reparos, fazer a faxina e reorganizar o que for necessário. Esse prazo varia de pessoa para pessoa e é esse um dos principais motivos para ter um acompanhamento que pode levar de poucos meses até anos.

 Como derrotar esse inimigo?

Você nunca irá derrota-lo. Na melhor das hipóteses irá aprender a conviver com ele, irá se permitir mudar, reconhecer seus erros, ouvir mais, se libertar de paradigmas, se preocupar menos com o que os outros irão pensar e começará a sua fase de reconstrução, onde você irá fortalecer as suas fraquezas uma a uma, irá subjugar todos os seus medos e coloca-los de joelhos perante você. Quando você estiver pronto, o seu pior inimigo irá se tornar o seu melhor e mais fiel amigo, você mesmo!